sábado, 16 de novembro de 2013

vistorias


Vistoria a um Salão de Cabeleireiros

De forma a obtermos conhecimento e experiência em todas as áreas da saúde ambiental, a nossa tutora de estágio, a TSA, proporcionou intervenções no âmbito das vistorias. Esta semana ficou decidido que um dos estabelecimentos a visitar seria um cabeleireiro.

Salão de Cabeleireiro


 Com a entrada em vigor da diretiva Licenciamento Zero, deixou de ser necessária licença para abrir um salão de cabeleireiro nem os profissionais que nele trabalharem são obrigados a carteira profissional. O Licenciamento Zero pressupõe que o local não necessite da realização de obras que necessitem de licença e que o empreendedor já tenha licença de utilização para comércio e/ou prestação de serviços. 

Depois do estabelecimentos entrarem em funcionamento, a unidade saúde pública é responsável por efetuar vigilância sanitária de estabelecimentos, onde se inserem os cabeleireiros. Como é do conhecimento cabe as autoridades de saúde “vigiar o nível sanitário dos aglomerados populacionais, dos serviços, estabelecimentos e locais de utilização pública e determinar as medidas corretivas necessárias à defesa da saúde pública; e caso necessário ordenar a interrupção ou suspensão de atividades ou serviços, bem como o encerramento dos estabelecimentos e locais acima referidos onde tais atividades se desenvolvam em condições de grave risco para a saúde pública”. (Decreto-Lei 82/2009, de 2 de Abril ).

 Enquanto técnicos de Saúde Ambiental podemos atuar “no controlo sanitário do ambiente, cabendo-lhe detetar, identificar, analisar, prevenir e corrigir riscos ambientais para a saúde, atuais ou potenciais, para este efeito realiza a vigilância sanitária dos estabelecimentos que dispõem de licenciamento sanitário, espaços de utilização coletiva, condições de laboração dos estabelecimentos industriais e agropecuários, tendo em vista a manutenção de salubridade do meio circundante”. (Decreto-Lei 117/95 de 30 de Maio).

É relevante realizar vistorias durante o período de estágio visto que permite aplicar na prática os conhecimentos teóricos. A vigilância sanitária contribui para a melhoria da qualidade dos serviços prestados sendo que a repetição do processo permite minimizar os riscos resultantes de deficientes condições estruturais ou de más práticas ocupacionais. 

 Em relação aos cabeleireiros as imposições técnicas mais proeminentes são:

1.    Pé direito do espaço: mínimo 3 metros
2.    Locais com permanência de pessoas terão de ser ventilados, seja por janelas ou ar condicionado
3.    Obrigatoriedade de instalação sanitária que não comunique com os clientes
4.    Paredes e pavimentos devem ser revestidos com materiais de fácil limpeza, ser resistentes e impermeáveis.
5.    As rampas de lavagem deverão ter água fria e quente e os seus tampos terão de ser de material lavável
6.    Secadores e material elétrico terá de ser certificado
7.    Tem de haver uma zona compartimentada para que os utensílios possam ser lavados
8.    É obrigatório equipamentos para esterilização e desinfeção dos materiais que entram em contacto com a pele.

 No estabelecimento que visitamos encontramos alguns incumprimentos, que na execução do relatório foram fundamentados com legislação:


No entanto e apesar de os salões de cabeleireiros serem considerados estabelecimentos de interesse da saúde, assiste-se ainda a ausência de uma regulamentação clara do setor, muitas das vezes estes representam riscos a quem frequenta os centros de estética.

Em relação aos impactos ambientais e sanitários dos salões de cabeleireiros os malefícios são ainda depreciados. No entanto este segmento vem crescendo não somente em proporções como em características, os riscos e impactos gerados para a saúde dos profissionais de beleza e meio ambiente encontram-se em estudo e já existem números que produzem essa realidade.

Como por exemplo:
  •  Um estudo realizado no Brasil, por dois indivíduos, Nileny Fabiana de Oliveira Souza e Jose Lopes Soares Neto. O estudo tem como titulo “CARACTERIZAÇÃO DO POTENCIAL POLUIDOR POR SALÕES DE BELEZA EM PALMAS-TO” ,  e tem como intuito expor a potencialidade degradadora e modificadora do meio ambiente pela atividade de salão de beleza, em decorrência da manipulação de produtos tóxicos e ausência de critérios de destinação final e/ou tratamento para minimização do potencial poluidor de tais substâncias.


  •  Outro dos estudos efetivado contempla os profissional de cabeleireiros que se encontram cronicamente exposto a um número de produtos químicos, como o formaldeído, presente em grande parte dos produtos. Com o objetivo de buscar informações sobre a perceção de saúde nos ambientes de trabalho dos cabeleireiros, no que diz respeito a toxicidade do formaldeído, foi realizada uma pesquisa qualitativa de carácter exploratório. O Estudo foi realizado em dois salões de beleza da cidade de Porto Alegre/RS, no Brasil, no ano de 2010. O estudo tem como nome PERCEÇÃO DOS CABELEIREIROS SOBRE A TOXICIDADE DO FORMALDÉIDO”.


A atividade dos cabeleireiros envolve vários riscos que podem classificar-se:

Riscos Químicos
Consoante as características da atividade realizada num salão de cabeleireiro, poderão ser utilizados inúmeros produtos cosméticos, os quais, por sua vez, são compostos por diversas substâncias que podem provocar patologias cutâneas (dermatoses) e respiratórias, bem como certos riscos do foro canceroso e mutagénico.
Quadro 1

Quadro 2
Ruído e Vibrações
Além de perda de audição, a exposição ao ruído pode ser uma causa de stress e fadiga para o trabalhador. Os níveis de ruído produzidos por alguns dos equipamentos utilizados nos cabeleireiros (nomeadamente, os secadores de cabelo) não são suficientes para originarem perda de audição. Contudo, podem constituir uma forte fonte de stress e incomodidade.


Riscos Mecânicos
Quadro 3

Algumas das tarefas desenvolvidas nos cabeleireiros podem ser extremament exigentes em termos físicos, sendo responsáveis pela ocorrência de lesões músculo-esqueléticas, sobretudo ao nível cervical, dos ombros e pulsos, geralmente devidas a posturas incorrectas e ao trabalho de pé, que chega a ocupar mais de dois terços do tempo normal de laboração.
Risco Biológico
Embora se trate de um risco de baixo nível, o certo é que os profissionais dos salões de cabeleireiro podem estar em contacto com clientes portadores de doenças contagiosas, como a sida, a hepatite B ou outras afeções suscetíveis de afetar a sua saúde e a de outras pessoas que venham a utilizar os serviços do salão.
Quadro 4



A atividade de cabeleireiro, tal como qualquer outra, engloba um conjunto de fatores de risco que poderão condicionar a segurança e o bem-estar dos profissionais que a desempenham, sendo necessária a implementação de medidas que reduzam tanto o risco de acidentes de trabalho como de doenças profissionais e promovam uma melhoria na qualidade do serviço prestado, com ganho de produtividade para o empregador.

Porque é no setor dos cabeleireiros que existe o maior risco de exposição a doenças da pele de origem ocupacional. Em alguns países, o número de cabeleireiros que sofre de afeções epidérmicas relacionadas com a sua atividade profissional atinge os 70%, percentagem pelo menos 10 vezes superior à da média dos trabalhadores de todos os outros setores.

Neste sentido o sindicato UNI Europa Hair & Beauty e a associação patronal do setor cabeleireiro, Coiffure EU, chegaram a Acordo sobre um conjunto de diretrizes dirigidas aos cabeleireiros, em matéria do desempenho das suas tarefas num ambiente seguro e saudável, em 26 de abril de 2012.

Este acordo abrange questões como o uso de produtos químicos e substâncias irritantes, a ergonomia e o tempo de trabalho, sendo que será implementado por uma diretiva europeia no sentido de se tornar obrigatório em todos os Estados-Membros.

O documento baseia-se nas melhores práticas nacionais atualmente existentes nos Estados-Membros, práticas essas eficazes na redução dos riscos para a saúde ocupacional.

O acordo vai abranger um total de 1 milhão de trabalhadores em 400.000 salões em toda a Europa.



Uma imagem vale mil palavras


 CURIOSIDADES

 Sendo que até aos dias de hoje a forma mais eficiente de se combater a sida é através da prevenção, a L’Oréal e a UNESCO lançaram a campanha cabeleireiros contra sida.

 O objetivo é promover saúde e prevenir a doença por meio de informações, atitudes e mecanismos que possam incentivar e apoiar comportamentos que evitem o risco de contagio, diminuindo o impacto do HIV no mundo. Tem como titulo “CABELEIREIROS CONTRA AIDS” 


O Brasil foi escolhido pelo seu reconhecimento mundial como um dos países que desenvolve os melhores programas de tratamento e prevenção contra a sida. No entanto o projeto Cabeleireiros Contra Aids já está presente em 30 países: África do Sul, Argentina, Austrália, Alemanha, Brasil, Bélgica, Canadá, Chile, Colômbia, Coréia do Sul, Dinamarca, Emirados Árabes (UAE), Espanha, EUA, França, Grã-Bretanha, Indonésia, Itália, Japão, Malásia, México, Países Baixos, Polônia, Portugal, Romênia, Rússia, Singapura, Tailândia, Uruguai, Venezuela.Além disso, mais de 150 academias L’Oréal estão envolvidas ativamente na campanha e cerca de 1 milhão de cabeleireiros no mundo abraçam esta causa.A ideia é, aos poucos, implantar o programa em todos os países onde a Divisão Profissional do Grupo L’Oréal está presente, transformando os profissionais desses salões em multiplicadores de informação contra a sida.

Uma ideia no mínimo a primar pela originalidade.


Os salões de cabeleireiro são frequentados com vista ao alcance da beleza e bem-estar, contudo, se os profissionais não se sentirem confortáveis e seguros, a sua eficácia irá diminuir em proporção direta com a satisfação do cliente. (Elisabete Afonso; 2011)


É importante que enquanto técnicos de Saúde Ambiental, no âmbito de uma vistoria sanitária a um estabelecimento de cabeleireiros, consigamos não só percecionar as questões higio sanitárias como saber relacionar com outras áreas de intervenção, como a saúde ocupacional ou as questões ambientais. Apesar dos cabeleireiros ser um setor que tem vindo a evoluir, no que concerne a legislação é ainda insuficiente.   

Até Breve.  

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