quinta-feira, 24 de abril de 2014

Bombeiros e a Saúde Pública


Os Bombeiros e a saúde



Olá caros leitores!



Ainda em consonância com o tema dos incêndios florestais, hoje vamos centrar-nos num dos seus atores: o Bombeiro.


Figura 1 - O Bombeiro


 “O Bombeiro é um indivíduo que íntegra de forma profissional ou voluntária um Corpo de Bombeiros, tem por atividade cumprir as missões destes, nomeadamente a proteção de vidas humanas e bens em perigo, mediante a prevenção e extinção de incêndios, o socorro de feridos, doentes ou náufragos, e a prestação de outros serviços previstos nos regulamentos internos e demais legislação aplicável.” In Decreto-lei nº 241/2007de 21 de Junho


Embora todos possamos vivenciar uma ou mais situações de adversidade (O conceito de adversidade é utilizado para designar situações que podem ameaçar a saúde física ou psicológica do ser humano) há grupos que, por inerência à sua atividade profissional, estão, à priori, mais sujeitos a este tipo de situações. 
Entre estes, destacam-se os profissionais de socorro, isto é, profissionais que atuam em situações de emergência ou crise, designadamente os Bombeiros, Paramédicos e Polícias...


“Regra geral tendemos a pensar que os operacionais de socorro se destinam apenas a cuidar e socorrer os outros, e não concebemos que eles possam ser afetados por problemas de saúde. De entre as profissões apontadas com maiores índices de stress, a emergência pré-hospitalar está praticamente no topo da lista. Estudos recentes realizados em diversos países mostram que os operacionais de socorro relatam uma grande variedade de stressores, incluindo na maioria das vezes a constante e continuada exposição a incidentes traumáticos”. (D.Marcelino, 2012)




Uma investigação com 203 Bombeiros dos Estados Unidos da América (EUA) e 625 do Canadá que analisou a exposição a incidentes potencialmente traumáticos durante o ano anterior ao estudo, revelou que o número médio de exposição era de 6.47 para a amostra dos EUA e 3.19 para os Bombeiros Canadianos. Num estudo realizado com 131 Bombeiros dos EUA, os autores constataram que, no ano anterior, 67% dos Bombeiros responderam a mais do que um incidente por dia, 12% responderam a um incidente por dia, 18% a um incidente por semana e os restantes 2% a um incidente por mês” in Exposiçãoadversa psicopatologia e queixas de saúde em bombeiros portugueses (C. Carvalho& A. Maia, 2009)

Também um estudo realizado sobre a prevalência do Transtorno de stresse Pós-Traumático (TEPT) entre bombeiros em Israel indica que cerca de 90% destes apresentam algum tipo de sintomas totais ou parciais.
De acordo com o estudo realizado pelo Bombeiro Marc lougassi, da Ben-Gurion University of the Negev, , 24% dos bombeiros ativos em Israel sofrem de PTSD total, 67% apresentam PTSD parcial, enquanto apenas 9% não apresentaram sintomas.
O PTSD pode ocorrer após a exposição a ferimentos graves para em si mesmo ou em outra pessoa, ou à morte de outra pessoa e resultar em sintomas de estresse recorrentes, como pesadelos, dificuldade de dormir e outras dificuldades por mais de um mês.

Em Portugal, são escassos os estudos sobre esta temática.
 No entanto,  O stress é uma constante na vida destes profissionais, por diversas razões já apontadas. A titulo de exemplo, a taxa de sinistralidade rodoviária é uma das maiores causas de morte - Esta realidade tem um impacto tremendo na saúde física e psicológica do Bombeiro que, por inerência da profissão tem de conviver com cenários de uma violência física extrema bem como com a ansiedade e a angustia latente decorrente da situação de quem se vai socorrer (poderá ser um familiar...) 
Consulte:

Figura 2  - Bombeiros a socorrer um acidente rodoviário 

Outras das vertentes, em estudo, sobre os riscos que comporta a profissão de Bombeiro, são as doenças cardiovasculares.
O combate dos incêndios aumenta consideravelmente o risco de se morrer de falência cardíaca, segundo um estudo publicado em Washington, que sugere que o trabalho dos Bombeiros é, de longe, a profissão mais perigosa em relação as doenças do coração, o estudo da Escola de Saúde Pública de Harvard demonstrou que, apesar da crença comum de que riscos chave de morte na categoria incluem a inalação de fumo e o risco de queimaduras, "a principal causa de morte entre os bombeiros americanos são as doenças cardíacas".
Desse estudo destacam-se os seguintes dados, 45% das mortes de bombeiros na última década foram atribuídas a "eventos cardiovasculares", contra 22% na polícia, 11% entre profissionais médicos de emergência e 15% em todas as outras profissões.
O estudo que será publicado no New England Journal of Medicine, refere que dos 1.144 bombeiros que morreram no trabalho durante o período, 39% das mortes foram atribuídas as doenças cardíacas. Segundo os autores do estudo, os fatores que contribuem para a elevação das taxas de mortalidade poderiam ser atribuídos aos "efeitos que o esforço vigoroso tem nos bombeiros” Referindo que: "Muitos bombeiros encontram-se acima do peso e não praticam atividade física adequada", acrescentaram, citando um estudo de 2005, segundo o qual "mais de 70% dos departamentos de bombeiros não tinham programas de higiene, segurança e saúde e exercício físico.


Um bombeiro do estado americano do Michigan colocou uma câmara de filmar no capacete durante o período de um ano e produziu um video de forma a mostrar como é combater os incêndios e o que os bombeiros enfrentam todos os dias, que pode ser visualizado AQUI


verifica-se que trabalhar diariamente sob o risco de morte ou de adquirir alguma doença, é um fator que tem sido estudado e debatido constantemente pela sociedade sob a legislação trabalhista, em âmbito mundial. Geralmente, uma profissão requer estudo, capacitação, e treinamento, em casos de atuação numa profissão de risco, o profissional deve ser reciclado constantemente e bonificado quando exposto a situações de perigo e insalubridade. Além do risco físico e psicológico, em determinadas situações, o profissional fica exposto à riscos químicos e biológicos, como é o caso dos Bombeiros.

desempenho de atividades como a dos bombeiros, à exposição a riscos ocupacionais, é uma constante com potencial de gerar danos de forma direta ou indireta na saúde.
Os bombeiros, no seu atendimento a emergências, em ambientes e locais desconhecidos, ficam expostos por vezes a substâncias tóxicas, desconhecidas e nocivas ao organismo, quando absorvidas, 
Ficam também expostos a produtos químicos voláteis como o hipoclorito de sódio (sendo o seu poder tóxico muitas vezes negligenciado) diariamente aquando do manuseamento e desinfeção de viaturas e materiais. 

Em relação à transmissão dos agentes biológicos, esta ocorre através do contato direto ou indireto - as vias de transmissão mais fluentes são as vias aérea e sanguínea.

Quanto aos riscos ergonómicos a que os bombeiros estão expostos na sua rotina de atividades pode-se citar - o esforço físico intenso, o levantamento e transporte manual de peso, postura inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos; trabalho em turnos, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia e movimentos repetitivos.

Figura 3 - O peso carregado pelos Bombeiros nas escadas do WTC

  
Nestes casos, de profissões de risco elevado, é importante existir uma articulação entre a entidade empregadora e o trabalhador; o trabalhador deve ter conhecimento e consciência dos riscos que corre. Deve existir uma articulação entre a teoria e a prática de forma a que o profissional  possa assumir determinados riscos. Deve existir uma especialização na área, deter domínio da atividade e ter conhecimento sobre normas e métodos de segurança.
Quanto à entidade empregadora, deverá assegurar não só as condições materiais para o exercício da profissão como garantir conhecimento através da formação das envolventes do risco.

Os Bombeiros, por inerência da sua atividade profissional, encontram-se permanentemente expostos a incidentes, à desorganização, confusão, cenários de destruição e inúmeras vezes rodeados de sofrimento e dor das vítimas, pelo que têm grandes probabilidades de se tornarem vítimas secundárias de stress pós-traumático. 
Perante o nível de exigência a que estão sujeitos, a frustração é muitas vezes uma constante, fazendo com que estados de irritabilidade e descompensação apareçam, com mais frequência.

 “Em 2002, um estudo de prevalência de stress pós-traumático com consequências no seu dia-a-dia entre os bombeiros voluntários refere que a taxa de incidência é "superior à da população geral", atingindo, na sua maior parte, os homens com idades compreendidas entre os 28 e os 32 anos.” in Publico 11 - 11 - 2004


De forma a contrariar estes problemas é importante existir um maior esforço no apoio psicológico aos Bombeiros, porque sendo esta perturbação uma doença camuflada não existe, por vezes, o tratamento adequado aos pacientes e em muitos casos nem estes são identificados como doentes.
  
É neste sentido, na inexistência de um apoio rápido e sustentando aos Bombeiros vítimas de situações traumatizantes, que a Autoridade Nacional De Proteção Civil decidiu iniciar um conjunto de procedimentos com vista à criação de Equipas de Apoio Psicossocial (EAPS). Estas equipas encontram-se inseridas numa estrutura de apoio, cuja missão é apoiar a gestão do stress e garantir mais saúde aos Bombeiros que se encontram  a vivenciar uma situação limite.





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Até Breve

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