Os Bombeiros e a saúde
Olá caros leitores!
Ainda em consonância com o
tema dos incêndios florestais, hoje vamos centrar-nos num dos seus atores: o Bombeiro.
Figura 1 - O Bombeiro |
“O Bombeiro é um indivíduo que íntegra de forma profissional ou
voluntária um Corpo de Bombeiros, tem por atividade cumprir as missões destes,
nomeadamente a proteção de vidas humanas e bens em perigo, mediante a prevenção
e extinção de incêndios, o socorro de feridos, doentes ou náufragos, e a
prestação de outros serviços previstos nos regulamentos internos e demais
legislação aplicável.” In Decreto-lei nº 241/2007de 21 de Junho
Embora
todos possamos vivenciar uma ou mais situações de adversidade (O conceito de
adversidade é utilizado para designar situações que podem ameaçar a saúde
física ou psicológica do ser humano) há grupos
que, por inerência à sua atividade profissional, estão, à priori, mais sujeitos
a este tipo de situações.
Entre estes, destacam-se os profissionais de socorro, isto é, profissionais que atuam em situações de emergência ou crise, designadamente os Bombeiros, Paramédicos e Polícias...
Entre estes, destacam-se os profissionais de socorro, isto é, profissionais que atuam em situações de emergência ou crise, designadamente os Bombeiros, Paramédicos e Polícias...
“Regra
geral tendemos a pensar que os operacionais de socorro se destinam apenas a cuidar
e socorrer os outros, e não concebemos que eles possam ser afetados por
problemas de saúde. De entre as profissões
apontadas com maiores índices de stress, a emergência pré-hospitalar está
praticamente no topo da lista. Estudos recentes realizados em diversos
países mostram que os operacionais de
socorro relatam uma grande variedade de stressores, incluindo na maioria
das vezes a constante e continuada exposição a incidentes traumáticos”. (D.Marcelino, 2012)
“Uma investigação
com 203 Bombeiros dos Estados Unidos da América (EUA) e 625 do Canadá que analisou a exposição a incidentes potencialmente traumáticos durante o ano anterior ao estudo, revelou que o
número médio de exposição era de 6.47
para a amostra dos EUA e 3.19 para os Bombeiros Canadianos. Num estudo realizado
com 131 Bombeiros dos EUA, os autores constataram que, no ano anterior, 67% dos
Bombeiros responderam a mais do que um incidente por dia, 12% responderam a um incidente por dia, 18% a um
incidente por semana e os restantes 2% a um incidente por mês” in Exposiçãoadversa psicopatologia e queixas de saúde em bombeiros portugueses (C. Carvalho& A. Maia, 2009)
Também um estudo realizado sobre a prevalência do Transtorno de stresse
Pós-Traumático (TEPT) entre bombeiros em Israel indica que cerca de 90% destes
apresentam algum tipo de sintomas totais ou parciais.
De acordo com o estudo realizado pelo Bombeiro Marc lougassi, da Ben-Gurion University of the Negev, , 24% dos bombeiros ativos em Israel sofrem
de PTSD total, 67% apresentam PTSD parcial,
enquanto apenas 9% não apresentaram sintomas.
O PTSD pode ocorrer após a exposição a
ferimentos graves para em si mesmo ou em outra pessoa, ou à morte de outra
pessoa e resultar em sintomas de estresse recorrentes, como pesadelos,
dificuldade de dormir e outras dificuldades por mais de um mês.
Em Portugal, são escassos os estudos
sobre esta temática.
No entanto, O
stress é uma constante na vida destes profissionais, por diversas razões já
apontadas. A titulo de exemplo, a taxa de sinistralidade rodoviária é uma das
maiores causas de morte - Esta realidade tem um impacto tremendo na
saúde física e psicológica do Bombeiro que, por inerência da profissão tem
de conviver com cenários de uma violência física extrema
bem como com a ansiedade e a angustia latente decorrente da
situação de quem se vai socorrer (poderá ser um familiar...)
Consulte:
Outras das vertentes, em estudo, sobre
os riscos que comporta a profissão de Bombeiro,
são as doenças cardiovasculares.
O combate dos incêndios aumenta
consideravelmente o risco de se morrer de falência cardíaca, segundo um estudo publicado em Washington, que sugere que o
trabalho dos Bombeiros é, de longe, a
profissão mais perigosa em relação as doenças do coração, o estudo da
Escola de Saúde Pública de Harvard demonstrou que, apesar da crença comum de
que riscos chave de morte na categoria incluem a inalação de fumo e o risco de
queimaduras, "a principal causa de
morte entre os bombeiros americanos são as doenças cardíacas".
Desse estudo destacam-se os seguintes
dados, 45% das mortes de bombeiros na
última década foram atribuídas a "eventos cardiovasculares",
contra 22% na polícia, 11% entre profissionais médicos de emergência e 15% em
todas as outras profissões.
O estudo
que será publicado no New England Journal of Medicine, refere que dos 1.144
bombeiros que morreram no trabalho durante o período, 39% das mortes foram
atribuídas as doenças cardíacas. Segundo os autores do estudo, os fatores
que contribuem para a elevação das taxas de mortalidade poderiam ser atribuídos
aos "efeitos que o esforço vigoroso tem nos bombeiros” Referindo que: "Muitos
bombeiros encontram-se acima do peso e não praticam atividade física
adequada", acrescentaram, citando um estudo de 2005, segundo o qual
"mais de 70% dos departamentos de
bombeiros não tinham programas de higiene, segurança e saúde e exercício
físico.
Um bombeiro do estado americano do Michigan
colocou uma câmara de filmar no capacete durante o período de um ano e produziu um video de forma a mostrar como é combater os incêndios e o que os bombeiros
enfrentam todos os dias, que pode ser visualizado AQUI
verifica-se que trabalhar
diariamente sob o risco de morte ou de adquirir alguma doença, é um fator que
tem sido estudado e debatido constantemente pela sociedade sob a legislação
trabalhista, em âmbito mundial. Geralmente, uma profissão requer estudo, capacitação, e treinamento, em casos de atuação numa profissão de
risco, o profissional deve ser reciclado constantemente e
bonificado quando exposto a situações de perigo e insalubridade. Além do risco físico e psicológico, em determinadas
situações, o profissional fica exposto à riscos químicos e biológicos, como é o
caso dos Bombeiros.
O desempenho de atividades como a dos bombeiros, à exposição a riscos ocupacionais, é uma constante com potencial de gerar danos de forma direta ou indireta na saúde.
Os bombeiros, no seu atendimento a emergências, em ambientes e locais desconhecidos, ficam expostos por vezes a substâncias tóxicas, desconhecidas
e nocivas ao organismo, quando absorvidas,
Ficam também expostos a produtos químicos voláteis como o hipoclorito de sódio (sendo o seu poder tóxico muitas vezes negligenciado) diariamente aquando do manuseamento e desinfeção de viaturas e materiais.
Ficam também expostos a produtos químicos voláteis como o hipoclorito de sódio (sendo o seu poder tóxico muitas vezes negligenciado) diariamente aquando do manuseamento e desinfeção de viaturas e materiais.
Em relação à transmissão dos agentes biológicos, esta
ocorre através do contato direto ou indireto - as vias de transmissão mais
fluentes são as vias aérea e sanguínea.
Quanto aos riscos ergonómicos a que os bombeiros estão
expostos na sua rotina de atividades pode-se citar - o esforço físico intenso,
o levantamento e transporte manual de peso, postura inadequada, controle rígido
de produtividade, imposição de ritmos excessivos; trabalho em turnos, jornadas
de trabalho prolongadas, monotonia e movimentos repetitivos.
Figura 3 - O peso carregado pelos Bombeiros nas escadas do WTC |
Nestes casos, de profissões de risco elevado, é importante existir uma articulação entre a entidade empregadora e o trabalhador; o trabalhador deve ter conhecimento e
consciência dos riscos que corre. Deve existir uma articulação
entre a teoria e a prática de forma a que o profissional possa assumir determinados riscos. Deve existir uma especialização na área, deter domínio da atividade e ter conhecimento
sobre normas e métodos de segurança.
Quanto à entidade empregadora, deverá assegurar não só as condições materiais para o exercício da profissão como garantir conhecimento através da formação das envolventes do risco.
Os Bombeiros, por inerência da sua
atividade profissional, encontram-se permanentemente expostos a incidentes, à
desorganização, confusão, cenários de destruição e inúmeras vezes rodeados de
sofrimento e dor das vítimas, pelo que têm grandes probabilidades de se
tornarem vítimas secundárias de stress
pós-traumático.
Perante o nível de exigência a que estão sujeitos, a frustração é muitas vezes uma constante, fazendo com que estados de irritabilidade e descompensação apareçam, com mais frequência.
Perante o nível de exigência a que estão sujeitos, a frustração é muitas vezes uma constante, fazendo com que estados de irritabilidade e descompensação apareçam, com mais frequência.
“Em 2002, um estudo de prevalência de stress
pós-traumático com consequências no seu dia-a-dia entre os bombeiros
voluntários refere que a taxa de incidência é "superior à da população
geral", atingindo, na sua maior parte, os homens com idades compreendidas
entre os 28 e os 32 anos.” in Publico 11 - 11 - 2004
De
forma a contrariar estes problemas é
importante existir um maior esforço no apoio psicológico aos Bombeiros, porque
sendo esta perturbação uma doença camuflada não existe, por vezes, o tratamento
adequado aos pacientes e em muitos casos nem estes são identificados como
doentes.
É
neste sentido, na inexistência de um apoio rápido e sustentando aos Bombeiros
vítimas de situações traumatizantes, que a Autoridade Nacional De Proteção Civil decidiu iniciar um conjunto de procedimentos com vista à criação de Equipas de Apoio Psicossocial (EAPS). Estas equipas encontram-se inseridas numa estrutura de apoio, cuja missão é apoiar a gestão do
stress e garantir mais saúde aos Bombeiros que se encontram a vivenciar uma situação limite.
O seu contributo é precioso.
Conto com o seu comentário.
Até Breve
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