Vistoria
a um Salão de Cabeleireiros
De forma a obtermos conhecimento
e experiência em todas as áreas da saúde ambiental, a nossa tutora de estágio,
a TSA, proporcionou intervenções no âmbito das vistorias. Esta semana ficou
decidido que um dos estabelecimentos a visitar seria um cabeleireiro.
Salão de Cabeleireiro |
Com a entrada em vigor da diretiva
Licenciamento Zero, deixou de ser necessária licença para abrir um salão de
cabeleireiro nem os profissionais que nele trabalharem são obrigados a carteira
profissional. O Licenciamento Zero pressupõe que o local não necessite da
realização de obras que necessitem de licença e que o empreendedor já tenha
licença de utilização para comércio e/ou prestação de serviços.
Depois do estabelecimentos entrarem em funcionamento, a unidade saúde pública é responsável por
efetuar vigilância sanitária de estabelecimentos, onde se inserem os
cabeleireiros. Como é do conhecimento cabe as autoridades de saúde “vigiar o
nível sanitário dos aglomerados populacionais, dos serviços, estabelecimentos e
locais de utilização pública e determinar as medidas corretivas necessárias à
defesa da saúde pública; e caso necessário ordenar a interrupção ou suspensão
de atividades ou serviços, bem como o encerramento dos estabelecimentos e locais
acima referidos onde tais atividades se desenvolvam em condições de grave risco
para a saúde pública”. (Decreto-Lei 82/2009, de 2
de Abril ).
Enquanto técnicos de Saúde Ambiental podemos
atuar “no controlo sanitário do ambiente, cabendo-lhe detetar, identificar,
analisar, prevenir e corrigir riscos ambientais para a saúde, atuais ou
potenciais, para este efeito realiza a vigilância sanitária dos
estabelecimentos que dispõem de licenciamento sanitário, espaços de utilização
coletiva, condições de laboração dos estabelecimentos industriais e agropecuários,
tendo em vista a manutenção de salubridade do meio circundante”. (Decreto-Lei
117/95 de 30 de Maio).
É relevante realizar vistorias durante o período de
estágio visto que permite aplicar na prática os conhecimentos teóricos. A
vigilância sanitária contribui para a melhoria da qualidade dos serviços
prestados sendo que a repetição do processo permite minimizar os riscos
resultantes de deficientes condições estruturais ou de más práticas
ocupacionais.
Em relação aos cabeleireiros as imposições técnicas mais proeminentes
são:
1. Pé direito do espaço:
mínimo 3 metros
2. Locais com
permanência de pessoas terão de ser ventilados, seja por janelas ou ar
condicionado
3. Obrigatoriedade de
instalação sanitária que não comunique com os clientes
4. Paredes e pavimentos
devem ser revestidos com materiais de fácil limpeza, ser resistentes e
impermeáveis.
5. As rampas de lavagem
deverão ter água fria e quente e os seus tampos terão de ser de material
lavável
6. Secadores e material
elétrico terá de ser certificado
7. Tem de haver uma zona
compartimentada para que os utensílios possam ser lavados
8. É obrigatório equipamentos para esterilização e desinfeção dos materiais que entram em contacto com
a pele.
No estabelecimento que visitamos encontramos
alguns incumprimentos, que na execução do relatório foram fundamentados com legislação:
No
entanto e apesar de os salões de cabeleireiros serem considerados
estabelecimentos de interesse da saúde, assiste-se ainda a ausência de uma
regulamentação clara do setor, muitas
das vezes estes representam riscos a quem frequenta os centros de
estética.
Em relação aos impactos ambientais e sanitários dos salões de
cabeleireiros os malefícios são ainda depreciados. No entanto este segmento vem
crescendo não somente em proporções como em características, os riscos e
impactos gerados para a saúde dos profissionais de beleza e meio ambiente
encontram-se em estudo e já existem números que produzem essa realidade.
Como por exemplo:
- Um estudo realizado no Brasil, por dois indivíduos, Nileny Fabiana de Oliveira Souza e Jose Lopes Soares Neto. O estudo tem como titulo “CARACTERIZAÇÃO DO POTENCIAL POLUIDOR POR SALÕES DE BELEZA EM PALMAS-TO” , e tem como intuito expor a potencialidade degradadora e modificadora do meio ambiente pela atividade de salão de beleza, em decorrência da manipulação de produtos tóxicos e ausência de critérios de destinação final e/ou tratamento para minimização do potencial poluidor de tais substâncias.
- Outro dos estudos efetivado contempla os profissional de cabeleireiros que se encontram cronicamente exposto a um número de produtos químicos, como o formaldeído, presente em grande parte dos produtos. Com o objetivo de buscar informações sobre a perceção de saúde nos ambientes de trabalho dos cabeleireiros, no que diz respeito a toxicidade do formaldeído, foi realizada uma pesquisa qualitativa de carácter exploratório. O Estudo foi realizado em dois salões de beleza da cidade de Porto Alegre/RS, no Brasil, no ano de 2010. O estudo tem como nome “PERCEÇÃO DOS CABELEIREIROS SOBRE A TOXICIDADE DO FORMALDÉIDO”.
A atividade dos
cabeleireiros envolve vários riscos que podem classificar-se:
Riscos
Químicos
Consoante as características da atividade
realizada num salão de cabeleireiro, poderão ser utilizados inúmeros produtos
cosméticos, os quais, por sua vez, são compostos por diversas substâncias que
podem provocar patologias cutâneas (dermatoses) e respiratórias, bem como
certos riscos do foro canceroso e mutagénico.
Quadro 1 |
Quadro 2 |
Ruído e
Vibrações
Além de perda
de audição, a exposição ao ruído pode ser uma causa de stress e fadiga para o
trabalhador. Os níveis de ruído produzidos por alguns dos equipamentos
utilizados nos cabeleireiros (nomeadamente, os secadores de cabelo) não são
suficientes para originarem perda de audição. Contudo, podem constituir uma
forte fonte de stress e incomodidade.
Riscos
Mecânicos
Quadro 3 |
Algumas
das tarefas desenvolvidas nos cabeleireiros podem ser extremament exigentes em
termos físicos, sendo responsáveis pela ocorrência de lesões músculo-esqueléticas,
sobretudo ao nível cervical, dos ombros e pulsos, geralmente devidas a posturas
incorrectas e ao trabalho de pé, que chega a ocupar mais de dois terços do
tempo normal de laboração.
Risco Biológico
Embora se trate de um risco de baixo
nível, o certo é que os profissionais dos salões de cabeleireiro podem estar em
contacto com clientes portadores de doenças contagiosas, como a sida, a hepatite
B ou outras afeções suscetíveis de afetar a sua saúde e a de outras pessoas que
venham a utilizar os serviços do salão.
Quadro 4 |
A atividade de cabeleireiro, tal como qualquer outra, engloba um conjunto de fatores
de risco que poderão condicionar a segurança e o bem-estar dos
profissionais que a desempenham, sendo necessária a implementação de
medidas que reduzam tanto o risco de acidentes de trabalho como de doenças
profissionais e promovam uma melhoria na qualidade do serviço prestado, com
ganho de produtividade para o empregador.
Porque é no setor dos cabeleireiros que existe o maior
risco de exposição a doenças da pele de origem ocupacional. Em alguns países, o
número de cabeleireiros que sofre de afeções epidérmicas relacionadas com a sua
atividade profissional atinge os 70%, percentagem pelo menos 10 vezes superior
à da média dos trabalhadores de todos os outros setores.
Neste sentido o sindicato UNI Europa Hair
& Beauty e a associação patronal do setor cabeleireiro, Coiffure EU,
chegaram a Acordo sobre um conjunto de diretrizes dirigidas aos cabeleireiros,
em matéria do desempenho das suas tarefas num ambiente seguro e saudável, em 26
de abril de 2012.
Este acordo abrange questões como o uso de produtos
químicos e substâncias irritantes, a ergonomia e o tempo de trabalho, sendo que
será implementado por uma diretiva europeia no sentido de se tornar obrigatório
em todos os Estados-Membros.
O documento baseia-se nas melhores práticas nacionais atualmente existentes nos Estados-Membros, práticas essas eficazes na redução dos riscos para a saúde ocupacional.
O acordo vai
abranger um total de 1 milhão de trabalhadores em 400.000 salões em toda a
Europa.
Uma imagem vale mil palavras |
CURIOSIDADES
Sendo que até
aos dias de hoje a forma mais eficiente de se combater a sida é através da
prevenção, a L’Oréal e a UNESCO lançaram a campanha
cabeleireiros contra sida.
O objetivo é promover saúde e prevenir a doença por meio de
informações, atitudes e mecanismos que possam incentivar e apoiar
comportamentos que evitem o risco de contagio, diminuindo o impacto do HIV no
mundo. Tem como titulo “CABELEIREIROS CONTRA AIDS”
O Brasil foi
escolhido pelo seu reconhecimento mundial como um dos países que desenvolve os
melhores programas de tratamento e prevenção contra a sida. No entanto o
projeto Cabeleireiros Contra Aids já está presente em 30 países: África do Sul,
Argentina, Austrália, Alemanha, Brasil, Bélgica, Canadá, Chile, Colômbia,
Coréia do Sul, Dinamarca, Emirados Árabes (UAE), Espanha, EUA, França,
Grã-Bretanha, Indonésia, Itália, Japão, Malásia, México, Países Baixos,
Polônia, Portugal, Romênia, Rússia, Singapura, Tailândia, Uruguai, Venezuela.Além
disso, mais de 150 academias L’Oréal estão envolvidas ativamente na campanha e
cerca de 1 milhão de cabeleireiros no mundo abraçam esta causa.A ideia é, aos
poucos, implantar o programa em todos os países onde a Divisão Profissional do
Grupo L’Oréal está presente, transformando os profissionais desses salões em
multiplicadores de informação contra a sida.
Uma ideia no
mínimo a primar pela originalidade.
Os salões de cabeleireiro são
frequentados com vista ao alcance da beleza e bem-estar,
contudo, se os profissionais não se sentirem confortáveis e seguros, a sua
eficácia irá diminuir em proporção direta com a satisfação do cliente. (Elisabete Afonso; 2011)
É importante que enquanto técnicos de Saúde Ambiental, no âmbito
de uma vistoria sanitária a um estabelecimento de cabeleireiros, consigamos não só percecionar
as questões higio sanitárias como saber relacionar com outras áreas de intervenção,
como a saúde ocupacional ou as questões ambientais. Apesar dos cabeleireiros ser um setor que tem vindo a evoluir, no que concerne a legislação é ainda insuficiente.
Até Breve.
Até Breve.
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